Um relato amoroso sobre os primeiros dias na escola
por Lara Zouain
Em um mundo onde tudo é on-line, rápido e evoluído, percebo o quanto o
abraço e o afeto são indispensáveis ao bem-estar, ao sentimento de
segurança, às novidades, e às mudanças que ocorrem em nossas vidas
adultas e corridas. Em conversa com outras mães, após o primeiro ano em
que nos despedimos dos nossos bebês, observo o quanto é difícil escolher
o momento certo, a pessoa certa ou o lugar certo para deixar seu filho
enquanto a vida lá fora nos chama.
A adaptação escolar é um período delicado e reflexivo em várias esferas
da maternidade e da família. Aqui cito maternidade, pois quem vos fala é
uma mãe de primeira viagem que deixa a filha pela primeira vez numa
escola de verdade. Escola essa, que também já estive em outra década, na
qual eu e meu marido escolhemos minuciosamente para confiar o dia a
dia da nossa “ex-bebê”.
Vejo crianças que mal sabem se equilibrar nas duas pernas, precisando “ir
ao mundo”, descobrir as facetas de um espaço sem pais, cheio de
estímulos, e todas as particularidades do início da vida em “sociedade”
dentro de um universo completamente diferente do que estavam
acostumadas. Ali rondam, brincam e correm meninos e meninas de todas
as idades. As paredes coloridas, o parquinho de areia, as quadras e
árvores se tornam um atrativo a parte para além dos portões azuis após o
“Boa Tarde” do Seu Dailson.
É muito mais que isso. Ali, nossas crianças e pais, querem se sentir à
vontade para observar e se acostumar a esse momento novo da vida, já
que a adaptação escolar é direcionada para todos da família, uma vez que
esse mix de sentimentos e até uma angústia não se limita à mente das
crianças.
“Vi um rosto conhecido! Pronto, vou ali trocar figurinhas e dividir meus
anseios com outra mãe!”, é a famosa segurança, de “estamos no mesmo
barco” misturada com aquela nostalgia de rever rostos antigos de pessoas
que vivenciaram a escola ou outros momentos comigo e hoje também
trazem os seus aqui. Ninguém solta a mão de ninguém, na maternidade,
sempre optamos por dividir para multiplicar.
O pátio, então, se torna um espaço de conselhos, trocas, olhares dengosos
e quando vemos, já é hora de voltar aos bancos da secretaria, aguardando
ansiosamente as atualizações da querida Rita que traz de hora em hora
notícia dos pequenos aventureiros.
Mais um desafio vencido, mais um dia passado, é hora de buscá-los! Isso
pra quem conseguiu sair e deixar aquele primeiro quadrado na volta ao
trabalho. Chegamos em casa orgulhosos e exaustos dessa jornada diária
da adaptação dos filhos na escola, com uma curiosidade imensa ao
imaginar tudo que sentiram e ali viveram. Venho cheia de perguntas para
saber mais sobre os colegas, as tias, as brincadeiras de hoje, se gostou do
lanche que preparei e imaginando cada passinho deles após espionar
os movimentos pela porta de vidro da secretaria.
Um sentimento de felicidade se apossa de mim, sim, parece pouco, mas
sem percebermos, eles estão crescendo. É uma saudade e um orgulho na
mesma esfera de crescimento em meu coração, não tem um sentimento
que ultrapasse o outro. Mas a saudade às vezes dói. Aí vem o orgulho de
pensar que “eles conseguiram” (e a gente também!) junto com os sorrisos
de dentes de leite ansiosos vindo em minha direção para o abraço e tudo
muda de novo.
Chegando em casa, me questiono sobre a nova rotina: o que teve hoje de
diferente de ontem? Às vezes me pergunto, me cobrando de observar e
acompanhar cada mudança sem perder nada. Uma palavra nova? Uma
atividade feita à mão que veio de lembrança pra casa?
Ontem mesmo, o tênis que parecia novo já não cabia, e, por aqui, já
preparamos os uniformes cuidadosamente alinhados e buscamos no
Youtube os penteados mais inusitados, para iniciarmos um novo dia,
que é só mais um, mas sempre diferente dos anteriores.
O cabelo dela já cresceu, a música da moda que chegava cantando em
casa já é outra, a adaptação inicial já consideramos encerrada. Ainda
temos todo o ano nos adaptando à nova vida, à essa nova escola.
Pode vir ano letivo de 2023, junto com tudo de novo que virá junto. Aqui
em casa, já estamos prontos pra você.